Ética e Liderança Cristã: Amar chefe 'mala' é possível, diz autor de 'O monge e o executivo'

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Amar chefe 'mala' é possível, diz autor de 'O monge e o executivo'

Fonte: G1
Em visita ao Brasil, James Hunter defende o 'amor' no ambiente de trabalho.
Livro lidera o ranking dos livros de carreira mais vendidos no Brasil.

Os chefes autoritários, ditadores e que atormentam a vida de seus subordinados ainda dominam as empresas do planeta. Há, no entanto, uma boa notícia: eles estão perdendo cada vez mais espaço no mundo corporativo, na avaliação do "guru" norte-americano James Hunter, autor do best seller "O monge e o executivo".

Foto: G1
James Hunter na última terça (4) após conferência em São Paulo (Foto: Ligia Guimarães/G1)

Escrito por Hunter, 52 anos, como um presente para a filha de 2 anos (atualmente com 12), o livro já vendeu mais de 2 milhões de cópias no mundo e lidera o ranking dos livros de carreira mais vendidos no Brasil.
O carro-chefe do consultor é divulgar o conceito do líder servidor, que vem crescendo como tendência de gestão no mundo dos negócios: o do chefe politicamente correto, que inspira e demonstra amor pelos seus subordinados, sem perder autoridade e, de quebra, ainda alavanca os lucros da companhia.
Segundo ele, o segredo para uma boa liderança no trabalho - não importa o cargo que você ocupe - é perder a vergonha de levar o amor para o dia-a-dia corporativo. A receita deve ser usada com todos os colegas: inclusive com os chefes 'ditadores'.
Hunter, que admite que até 2005 não sabia nada sobre o Brasil, concedeu entrevista ao G1 durante sua 14ª visita ao país, onde cerca de 100 mil cópias do 'Monge' foram vendidas. Confira os principais trechos da entrevista.

G1 - Você fala muito sobre o uso do amor no ambiente de trabalho. Como funciona?
James Hunter -
Amor é o modo como nos comportamos, não apenas o sentimento. Podemos escolher um comportamento amoroso ou não amoroso. Por exemplo, quando eu te escuto, respeito, é comportamento amoroso. Quando eu não te dou atenção, quando eu te desprezo, ignoro, é não amoroso. Quando eu sou paciente, gentil, mostro apreciação, sou humilde, ensinável, trato as pessoas com respeito, não sou egoísta, honesto. Isso é ter uma atitude de amor. É uma escolha.

G1 - É possível reagir com amor a um chefe 'tirano', sem ser 'pisado' por ele?
Hunter - É difícil, mas possível. Muito dos grandes líderes servidores que eu conheço trabalham para chefes ruins. Eles têm que administrar a situação. Não é porque eu tenho um chefe ruim que eu tenho que mudar o meu comportamento, o meu caráter. Ainda sou responsável por mim: meu comportamento são minhas escolhas. E posso escolher o comportamento amoroso de que falamos antes. Senão terei dois problemas: além de um chefe ruim, ou colega ruim, serei uma pessoa ruim.

G1 - E uma pessoa muito amorosa, num ambiente agressivo, não tende a ficar muito neutra, passiva no trabalho?
Hunter - Não, o amor não é passivo, de jeito nenhum. Gandhi, por exemplo, Jesus Cristo, Martin Luther King, Nelson Mandela, eram muito assertivos. Eles não eram passivos ou moles, mas eram amorosos, eles diziam a verdade às pessoas. Os grandes líderes servidores no meu país são firmes, mas não desrespeitam as pessoas. Eles são abertos, honestos, diretos, firmes, mas não são agressivos. Mas sempre de um jeito respeitoso e amoroso.

G1 - Se suas teorias fossem aplicadas em todas as empresas do mundo, sobrariam apenas os chefes politicamente corretos? Existe um perfil ideal?
Hunter
- Os melhores líderes servidores que eu conheço podem ter personalidades diferentes. Alguns podem ser mais extrovertidos, outros mais charmosos, mas o caráter é sempre da pessoa que busca fazer a coisa certa. Respeito, apreciação. Essas não são qualidades de personalidade, mas de caráter. São as qualidades que ensinamos a nossos filhos: a serem bons ouvintes, a dividir as coisas, serem honestos, não mentir, serem comprometidos.

Foto: Lígia Guimarães / G1
James Hunter, autor de 'O monge e o executivo' (Foto: Lígia Guimarães / G1)

Novamente, não quero que você pense que líderes servidores são fracos, moles. Eles são muito diretos, eles colocam padrões altos. Mostram a lacuna que existe entre a sua performance e as necessidades da empresa e dizem: vou trabalhar com você para fechar essa lacuna, mas precisamos fechar. Mas nunca desrespeitam, colocando você para baixo, como o chefe ditador. Mas ele quer que você seja o melhor.
Se você escolher não progredir, você vai ter que receber um pouco do amor severo: você não pode mais trabalhar aqui. Eu te amo, sentirei saudades, mas adeus.

G1 - Você acha que atualmente as empresas refletem suas teorias, recompensam os líderes servidores? Ainda há muitos 'ditadores' por aí?
Hunter - Sim, ainda existem muitos chefes tiranos, ‘nazistas’ e ditadores. Ainda são a maioria, mas menos do que costumavam existir. No meu país, isso está mudando muito rápido. E a razão são os jovens. No meu país, os jovens não toleram mais os chefes ruins: eles dizem tchau. E nos Estados Unidos os jovens agora têm muitas opções, porque a economia está forte, e se o chefe deles é um idiota, bye-bye.

G1 - E no Brasil, você acha que é possível rejeitar um chefe ruim?
Hunter -
Sim, com certeza, algumas pessoas fazem isso. E vai ficar cada vez mais fácil à medida que o desemprego for caindo no Brasil e as pessoas forem tendo mais e mais escolhas. O que eu digo a executivos é que eu espero que o país não aprenda do jeito difícil. Nos EUA, aprendemos do jeito difícil.

G1 - E qual é o jeito difícil?
Hunter - Com chefes ruins. A indústria automobilística, algumas das grandes indústrias, foram destruídas porque não temos boa liderança. E agora estamos começando a aprender que temos que liderar de maneira diferente. A Ford Motor Company e a General Motors ainda fazem do jeito antigo. Agora mesmo, um homem veio conversar comigo e disse que trabalha na Ford aqui no Brasil, e a liderança lá está terrível. Gritos e ditadores. Mas está mudando, e rápido. As pessoas, com tanta informação, têm expectativas mais altas.

G1 - No livro, você usa muitos exemplos como Jesus, Buda, e outros ícones religiosos. Você acha que pessoas que praticam uma religião levam vantagem no ambiente de trabalho?
Hunter - Para mim, ajuda muito. Para outros que conheço, também. Mas há ainda outros que conheço que são muito religiosos e são líderes terríveis. E conheço outros que não têm religião, não acreditam em Deus e são líderes servidores maravilhosos. Você não tem que ser uma pessoa religiosa. Não é sobre religião, é sobre caráter. Eles são guiados pelos seus princípios pessoais. Não pela religião, não pelo que os outros acham. Eles acreditam que é o certo tratar as pessoas desse jeito. Escolha pessoal. Eu sou cristão e eu acho que me ajuda demais. Então, para mim funciona, para outros não. Pessoas são diferentes.

G1 - Você defende o uso de elogios no ambiente de trabalho. Como fazer o uso positivo deles, sem se tornar um 'puxa-saco'?
Hunter
- A chave para elogiar as pessoas é que os elogios têm que ser sinceros e específicos. Por exemplo, se você trabalha com mais dez pessoas e eu chego para vocês de manhã e digo: 'vocês todos fizeram um ótimo trabalho!', você vai pensar: 'eles não fizeram nada!' . Mas se eu chegar para você, e disser: eu amo o fato de que você fez isso, isso e aquilo, é outra coisa. Tem que ser sincero e específico, senão fica puxa-saquismo, pegajoso. As pessoas precisam de apreciação. Se você vê boas coisas, tem que contar às pessoas. É muito importante.

G1 - A idéia de escrever o livro veio da sua experiência no trabalho?
Hunter - Escrevi o livro para minha filha em 1997. Ela tinha dois anos na época e era para ser apenas uma história para ensinar a ela os princípios que eu ensinava sobre liderança servidora. Não me vejo como um autor, sou um educador, não escrevo. Decidi colocar no papel alguns princípios para ela, caso acontecesse alguma coisa comigo. Algumas pessoas leram, gostaram, e mandaram para uma editora em 1998 nos EUA. No Brasil, saiu em 2005.

G1 - Você conhecia alguma coisa sobre o Brasil antes do sucesso do seu livro?
Hunter - Nada. Muito pouco. Fiquei muito surpreso. Meu editor ligou um dia e me disse: meu nome é Marcos, do Rio de Janeiro, e seu livro é um fenômeno. Eu disse: 'que livro?' E ele: 'O monge e o executivo'. Eu disse: 'desculpe, não escrevi um livro com esse nome', e já ia desligar o telefone. (Nos EUA, o livro se chama "The servant", que significa "O servidor" em português). Depois confirmei que era verdade e vim para cá. Foram 14 visitas desde então.

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