Ética e Liderança Cristã: setembro 2007

domingo, 30 de setembro de 2007

Era uma vez a ética

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Publicado em 29|09 pelo(a) wiki repórter Rafael Abreu, Porto velho-RO

Era uma vez a ética

Ética! , ultimamente tão popular, mas o que é ética afinal? Eis a pergunta que não quer calar, segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ética “é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal, conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”.

Criam-se definições complexas e relativas, um misticismo à palavra, que para a sociedade, tornou-se impossível alcançar a bendita graça (a ética). Hoje em dia, e fácil ouvir termos como “ética na política”, “ética econômica”, “ética profissional” e assim por diante, abrangendo todas as áreas existenciais. Teoricamente, tudo isso e válido, é como filosofar sobre a vida, é poder exercitar todo o seu lado cristão, é seguir regras, normas de conduta.

“Teoricamente”. Tudo isso é lindo! Somente isso! Já que na prática a ética está mesmo em extinção. É o fato de lembrarmos e sabermos “os fins justifica os meios” que dá para entender algo como ética na profissão, se deve obedecer às regras; na econmia, o capital e, o mais importante, na política é tudo possível, pois em política vale tudo.
Falar em ética acaba sendo imoral, amoral e talvez, quem sabe, um dia moral.

“...Seus corruptos!!!...” Alguém grita aos seios de nossa Pátria amada.

Inimigo mortal da ética e nosso companheiro vital, a corrupção se delicia, ri e se diverte com nossas atitudes que frauda a ética e a sufoca sem chances de se defender. Realmente, é difícil aceitar a idéia que somos corruptos. Vivemos corrompendo algo, das menores formas de corromper às monstruosas e tão faladas que aniquilam o tesouro público. Não entremos em depressão por isso, apenas. Que tal, revermos nossos conceitos. Em algum lugar, ouvir dizer “errar é humano”, posso concluir que então consertar o erro é um dever social.

Antes de pedir ética, façamos a ética!. Antes de dizer não à corrupção!, paremos de corromper. Ou então entraremos num círculo vicioso sem fim, que é quase certo de acontecer. Afinal, o que é ética?. Ética é algo que todos precisam ter. Alguns dizem que têm. Poucos levam a sério. Ninguém cumpre à risca...

Copiado do Brasil Wiki

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Definições

- MORAL - “Concernente a ou próprio da moral; que segue princípios socialmente aceitos; comportamento ético, denota bons costumes, boa conduta, segundo os preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado grupo social; que denota honestidade; correto; que ensina, educa; edificante; conjunto de valores como a honestidade, a bondade, a virtude etc., considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens; conjunto das regras, preceitos etc. característicos de determinado grupo social que os estabelece e defende; conjunto dos princípios virtuosos, adotados por um indivíduo, e que, em última análise, norteia o seu modo de agir e pensar; Rubrica: filosofia. Cada um dos sistemas variáveis de leis e valores estudados pela ética (disciplina autônoma da filosofia), caracterizados por organizarem a vida das múltiplas comunidades humanas, diferenciando e definindo comportamentos proscritos, desaconselhados, permitidos ou ideais”.

- ÉTICA“Parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social; conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade; doutrina ética: que considera o ser humano um legislador livre e consciente do conjunto de normas e leis morais que adota em sua existência social, supondo a inexistência de condicionamentos extra-humanos ou involuntários de origem política, natural ou divina”.

- AUSTERIDADE - “Qualidade ou caráter de austero; austereza, autocontrole, autodomínio, circunspeção, comedimento, compostura, continência, critério, desafetação, despojamento, discrição, equilíbrio, frugalidade, gravidade, juízo, lhaneza, maneiras, método, moderação, modéstia, modo, naturalidade, ordem, parcimônia, ponderação, prudência, recolhimento, regra, reserva, respeito, retraimento, rigor, sensatez, senso, seriedade, severidade, simplicidade, singeleza, siso, sisudez, sobriedade, têmpera, temperança, tino, virtude”.

- VERGONHADesonra que ultraja, humilha; opróbio; o sentimento desse ultraje, dessa desonra ou humilhação; sentimento penoso causado pela inferioridade, indecência ou indignidade; sentimento ou consciência da própria honra, dignidade, honestidade, brio, pudor, pejo;o homem que tem vergonha não age como um crápula; qualquer atitude ou ato indecoroso, desonesto, vexatório.
Exemplo.: roubar é uma vergonha; qualquer atitude ou ato indecoroso, desonesto, vexatório; consciência da própria dignidade”.


- INDECÊNCIA - "Qualidade, caráter ou condição do que é indecente; inconformidade às regras do decoro, da moral ou dos bons costumes; indignidade, incorreção, inconveniência, indecorosidade; violação ao pudor, falta de respeito, de consideração; desacato, desrespeito, descaramento, inconveniência; ato ou atitude indecente; descompostura, inconveniência, desrespeito, obscenidade; Sinônimos: bandalha, bandalheira, bandalhice, bargantaria, corrupção, crápula, deboche, degeneração, depravação, descaramento, descaro, desonestidade, despudor, desvergonha, dissipação, hediondez, ignomínia, imoralidade, impropriedade, impudência, impudicícia, indecoro, indecorosidade, indignidade, intemperança, libertinagem, libidinagem, licenciosidade, luxúria, maganagem, obscenidade, ordinarice, patifaria, perdição, perdimento, perversão, podridão, podriqueira, pouca-vergonha, pulhice, pústula, putaria, sacanagem, sacanice, safadeza, safadice, salácia, salacidade, sem-vergonhez, sem-vergonheza, sem-vergonhice, sem-vergonhismo, torpeza".

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Liderança e Ética

Liderança e ÉticaCada vez mais na actualidade é vulgar ouvir falar-se, de modo indiferenciado mas relacionado, de Ética, Moral e Deontologia, não só por motivos ligados à vida política dos países, mas também das maiores empresas públicas e privadas, nacionais ou internacionais. A Ética está associada à adjectivação de comportamentos das pessoas, ao defini-los como "éticos", "pouco éticos" ou "sem ética". Enquanto a Moral se refere aos comportamentos concretos das pessoas, a Ética corresponde à reflexão, na forma de juízo de valor, sobre esses comportamentos. Com a evolução das sociedades e das organizações, a Deontologia (ramo da Ética Normativa), apesar de ser muitas vezes ignorada, tem vindo a ganhar importância sobretudo com a criação e desenvolvimento de ordens profissionais, incidindo sobre os fundamentos do dever e as normas morais.

 

Liderança e Ética são conceitos inseparáveis, porque liderar implica decidir e ética tem a ver como decidir, numa situação particular, sobre o que está certo (ou mais certo) e sobre o que é mais consistente com um sistema de valores organizacional ou pessoal. É a Ética que confere as dimensões de autenticidade, honestidade e integridade que caracterizam a verdadeira Liderança, conferindo-lhe a credibilidade que é a sua base de sustentação. A Liderança não tem de se centrar necessariamente numa posição hierárquica de topo ou num indivíduo que detenha o poder em regime de exclusividade, indo muito além do aspecto formal da posição e do poder e traduzindo-se numa relação moral complexa estabelecida entre pessoas.

 

A Ética em Liderança está associada à integridade de carácter do Líder. Por isso ele é reconhecido como sendo um Líder e, também por isso, não há verdadeiros Líderes sem Ética. Por outro lado, a Ética em Liderança resulta da qualidade do juízo de valor inerente às decisões de quem lidera. Decidir não é apenas uma questão de sim ou não. É bem mais complexo que isso, na medida em que envolve uma dimensão social, que será tanto maior quanto maior for a dimensão da organização. É essa dimensão social que confere um valor acrescentado ao significado de Ética, no que à Liderança diz respeito, na medida em que uma decisão individual irá ter repercussões positivas (no caso de decisões eticamente correctas) ou negativas (no caso de decisões eticamente pouco correctas ou incorrectas) sobre várias pessoas.

 

Numa investigação desenvolvida sobre "má liderança", Barbara Gellerman identificou sete diferentes padrões de Liderança, variando entre a liderança ineficaz e a liderança sem ética. Enquanto entre as causas para uma liderança ineficaz podem estar a incompetência, a inflexibilidade ou falta de autocontrolo do líder, a liderança sem ética relaciona-se com os conceitos de certo ou errado, segundo um critério que geralmente é ditado pela moral. Tal como Barbara Gellerman afirmou em "How Bad Leadership Happens", Leader to Leader, Number 35 (Winter 2005), "a liderança sem ética pode ser eficaz, tal como a liderança ineficaz pode ser ética, mas a liderança sem ética não pode sequer fazer a reivindicação mais básica à decência e à boa conduta e, por isso, o processo de liderança descarrila".

 

Liderar em proveito dos outros é criar as condições para repelir a liderança sem ética, na medida em que normalmente se adopta uma humildade sincera que faz ressaltar os pontos fortes do Líder e daqueles que este serve. Esta atitude, associada a uma clara definição da visão e dos valores partilhados, cria as condições para evitar dilemas éticos e morais. A Liderança Ética combina a ética na tomada de decisões com o comportamento ético e ocorre quer ao nível da organização, quer ao nível individual. O Líder tem a responsabilidade de tomar decisões eticamente correctas e de se comportar de modo eticamente correcto, mantendo-se atento ao modo como a organização entende e pratica o seu código ético.

 

Mário Santos

Economista, Consultor de Liderança e Formador

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Assertividade

AssertividadeSer assertivo é gozar os nossos direitos na plenitude, é expressar os nossos sentimentos, é pedir aquilo que queremos e expressar os nossos pontos de vista, de modo directo, com integridade, honestidade e respeito pelos outros. Para quem podemos ser assertivos? Para nós próprios, para a nossa família, para os nossos amigos, para a nossa rede de contactos e relacionamentos, para os nossos clientes, para os nossos colegas, para a nossa equipa, para os nossos gestores, para os nossos líderes, para os nossos subordinados, enfim para todas as pessoas com que contactamos diariamente. Quando somos assertivos melhoramos a nossa integridade porque estamos a ser honestos connosco e com os outros. Ao manifestarmos aberta e honestamente perante as outras pessoas, como nos sentimos, o que pensamos e do que precisamos, estamos a criar condições para as influenciar positivamente de modo proactivo. Por todas estas razões, o comportamento assertivo é um tipo de comportamento que facilita a comunicação por parte de quem lidera. Um Líder assertivo, em termos de comunicação, terá a seu favor todas as condições para o seu sucesso e para o sucesso da sua Equipa.

 

Assertividade também significa equilíbrio, na medida em que um comportamento assertivo equilibra as necessidades dos outros com as nossas próprias necessidades, de acordo com a nossa avaliação das prioridades em causa. Ser assertivo é tratar as outras pessoas como nós próprios gostaríamos de ser tratados. Existem dois tipos de comportamentos alternativos à assertividade: são os comportamentos não assertivos (quando maioritariamente colocamos as necessidades dos outros à frente das nossas) e os comportamentos agressivos (quando maioritariamente colocamos as nossas necessidades à frente das dos outros). A grande vantagem da assertividade é a de gozar das vantagens de qualquer dos comportamentos alternativos, sem que tenha qualquer das suas desvantagens.

 

Assertividade é uma atitude que honra quer as nossas escolhas, quer as das pessoas com quem comunicamos. Ser assertivo não é ser passivo e também não é ser agressivo ou impetuoso com o intuito de levar os outros à submissão. É antes uma atitude que visa a obtenção e troca de opiniões, com o intuito de desenvolver um quadro de completa compreensão da situação, negociando uma situação em que ambas as partes acabem por ganhar. Por certo todos nos lembramos de situações onde, a posteriori, desejaríamos ter actuado de modo diferente, onde sentimos que deveríamos ter falado em vez de ficar calados, ou onde perdemos a nossa moderação e dissemos mais do que aquilo que devíamos dizer. Quaisquer que tenham sido essas situações, o que elas tiveram em comum foi que nos deixaram ficar desconfortáveis e frustrados. Porque permanecemos calados? O que nos impediu de dizer o que pensávamos? O que é que nos fez perder a moderação?

 

Estes exemplos ilustram os dois tipos de comportamento alternativos à assertividade, ambos ineficazes e disfuncionais, e demonstram uma quebra de comunicação. Uma alternativa para evitar este tipo de comportamento passa por uma resposta assertiva, a qual, na maioria das vezes, oferece uma abordagem eficaz para lidar com situações profissionais, sociais ou familiares. Cada pessoa tem a sua própria maneira de lidar com as situações que se nos deparam no dia-a-dia, mas a maneira como o fazemos depende de muitos factores: as nossas percepções sobre a situação em causa, o contexto, as pessoas envolvidas, o tipo de relacionamento e o modo como o nosso comportamento nos condicionam. De acordo com Albert Mehrabian, o maior impacto daquilo que dizemos resulta da nossa linguagem corporal. Segundo este Professor de Psicologia, em média, quando avaliamos se alguém está a ser sincero naquilo que diz, em 55% dos casos somos influenciados pela sua linguagem corporal, em 38% dos casos somos influenciados pela sua voz e apenas em 7% dos casos somos influenciados por aquilo que foi dito. Para se ser assertivo é pois imperativo que aquilo que dizemos seja "confirmado" pela nossa linguagem corporal.

 

A assertividade pode classificar-se como sendo a arte da comunicação efectiva, na medida em que é essencialmente acerca de sabermos que temos o direito de escolher as respostas que damos, bem como o momento em que o fazemos, sem infringirmos os direitos dos outros. Assertividade é expressarmos os nossos pensamentos, sentimentos e crenças de uma maneira directa, honesta e adequada. Isso implica que tenhamos respeito por nós próprios, bem como pelos outros. A assertividade permite influenciar, ouvir e negociar, duma maneira em que os outros aceitam cooperar de livre vontade. Podemos nem sempre nos sentir satisfeitos com a nossa resposta e com aquilo que sentimos, mas querendo e treinando algumas técnicas simples, poderemos fazer algo de positivo para alterar o nosso comportamento para um comportamento mais assertivo. Para avaliar do seu grau de assertividade, poderá fazer este Teste de Assertividade (em inglês).

 

Mário Santos

Economista, Consultor de Liderança e Formador

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Liderança e Credibilidade

Liderança e CredibilidadeA credibilidade é a fundação para o sucesso da liderança e resulta da conjugação de factores como a honestidade, a visão, a competência e a inspiração do líder. Sem credibilidade, a visão desvanece-se e sem visão perde-se a direcção estratégica da empresa ou organização.

 

Credibilidade é uma qualidade, a qualidade daquilo que é crível, ou seja daquilo que é acreditável. A credibilidade ganha-se, consolida-se e reforça-se através da dinâmica humana da confiança. Um líder credível respeita, é respeitado e faz com que os seus colaboradores se respeitem a eles próprios. Enquanto o respeito pode ser adquirido pela posição que se ocupa, a credibilidade tem de ser conquistada, pois liderar não é simplesmente deter o poder: é bem mais complexo que isso.

 

A "credibilidade" da liderança confere-lhe a dimensão de honestidade que lhe dá o estatuto de liderança "verdadeira". Numa era de competitividade e desafios crescentes, onde o que interessa é o pensamento estratégico adequado, a liderança da mudança, a clareza de objectivos e valores, a boa liderança não poderia ser mais importante. Neste contexto, a percepção que temos de nós próprios, assim como a percepção que temos dos nossos relacionamentos com as outras pessoas, recordam-nos alguns conceitos já abordados sobre os domínios da Inteligência Emocional. Qualquer líder que seja credível como pessoa verá a sua liderança sair positivamente reforçada.

 

Sem credibilidade, o poder inerente à posição dum líder não terá qualquer valor. A credibilidade dum líder pode ganhar-se:

 

- Através da maneira directa e não furtiva como comunica "olhos nos olhos" com os seus colaboradores;

- Através dos reflexos positivos e exemplo decorrentes da imagem causada pela sua presença física;

- Através da partilha de valores e experiências com os seus colaboradores;

- Ouvindo e apreciando os pontos de vista dos outros, mesmo e sobretudo quando diferentes do seu próprio ponto de vista;

- Quando as suas atitudes e acções servem a finalidade e objectivos da equipa, ao mesmo tempo que demonstram valor acrescentado;

- Quando o líder é inspirador e actua como um sustentador de esperança junto dos seus colaboradores.

 

O espírito da equipa reflecte o espírito da sua liderança. Normalmente a um líder positivo e entusiástico, corresponde uma equipa igualmente positiva e entusiástica. Apresentam-se de seguida algumas boas práticas que poderão auxiliar um líder a ganhar e consolidar a sua credibilidade, ao mesmo tempo que reforça a sua eficácia nessa função. Em cada tópico, as boas práticas listadas não se encontram por qualquer ordem de relevância, na medida em que todas são igualmente importantes e todas deverão ser implementadas sempre que possível e adequado.

 

Boas práticas relacionadas com o próprio líder

 

- Ser ele próprio e não alguém que gostaria de ser;

- Ser honesto e dizer sempre a verdade;

- Ser confiante;

- Ser entusiástico;

- Ser específico;

- Ser paciente;

- Admitir quando se erra;

- Nunca delegar uma tarefa que não desejasse executar;

- Não se preocupar com as coisas que não pode controlar;

- Manter sempre a abertura de espírito;

- Estar sempre preparado para tudo;

- Saber descontrair;

- Manter a calma em qualquer circunstância, mesmo que alguém seja agressivo com ele;

- Nunca dizer nunca;

- Não concentrar toda a sua energia nas oscilações de curto prazo;

- Manter-se focado nos objectivos de longo prazo;

- Utilizar comparações e exemplos para ajudar a clarificar aspectos de mais difícil compreensão;

- Não arranjar desculpas;

- Evitar ser sarcástico;

- Evitar exagerar;

- Assegurar que a linguagem corporal está em sintonia com aquilo que diz;

- Pedir esclarecimentos sempre que não entenda uma ideia ou opinião;

- Dar sempre respostas curtas e directas.

 

Boas práticas relacionadas com a equipa e com os colaboradores

 

- Trabalhar com o que se tem, não com aquilo que gostaria de se ter;

- Utilizar os nomes das pessoas sempre que se dirigir a elas;

- Começar e acabar as reuniões à hora marcada;

- Permitir que cada membro da equipa fale sem ser interrompido;

- Não permitir que os colaboradores manifestem apenas críticas negativas;

- Orientar os seus colaboradores no sentido de, sempre que apontarem problemas, indicarem formas de resolução;

- Nas reuniões ir fazendo pontos de situação, para fazer ressaltar os aspectos mais importantes;

- Gerir as reuniões sem perder de vista a agenda de trabalhos e os objectivos da mesma;

- Olhar as pessoas nos olhos sempre que comunique com elas;

- Indagar as opiniões e ideias dos colaboradores que passam mais despercebidos;

- Não desacreditar ideias de outras pessoas só porque não concordamos com elas;

- Permitir aos colaboradores aprenderem com os seus próprios erros;

- Influenciar a equipa utilizando lógica e convicções sinceras, não com a autoridade;

- Não permitir ataques verbais, nem a si, nem entre colaboradores da sua equipa;

- Utilizar o humor e divertir-se sempre que possível, encorajando a equipa a fazer o mesmo;

- Recompensar os colaboradores por um trabalho bem feito;

- Tratar os outros com amabilidade;

- Encorajar os membros da equipa;

- Confiar nos colaboradores.

 

Boas práticas relacionadas com a liderança

 

- Liderança é responsabilidade, não prestígio;

- Desenvolver líderes através do exemplo da boa liderança;

- Utilizar a liderança como uma forma de apoio e não de coacção.

 

No link que a seguir se apresenta, poderá proceder a um autodiagnóstico relativamente ao grau de credibilidade da sua própria liderança. Como todos os testes, haverá vantagens e inconvenientes, mas mais importante que o resultado são as indicações que daí decorrem e as medidas que poderemos tomar para melhorar a nossa credibilidade como líderes, visto que, em limite, a perfeição é utópica e existe sempre espaço para melhoria. Basta acreditarmos nisso, querer e ter a motivação para efectivamente melhorar. Isto é válido para qualquer competência pessoal ou profissional que queiramos desenvolver.

 

Credible Leadership Questionnaire (em inglês)

 

Mário Santos

Economista, Consultor de Liderança e Formador

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Em debate: símbolos religiosos na sociedade secular

Simbolismo religioso: compatível com o secularismo?


Diante do atual renascimento da religião como fenômeno global, as sociedades seculares enfrentam o desafio de definir até onde símbolos religiosos podem estar presentes na vida pública.

Na parede da sala de Stefan Muckel, professor de Direito Canônico da Universidade de Colônia, está dependurado um crucifixo de metal, em frente a uma foto do papa Bento 16. Isso não é problema no ambiente acadêmico, garante o professor, pois cada um pode escolher, como quer, a decoração do próprio escritório.

E dependurar o crucifixo nas salas de aula, é possível? Não, revida Muckel, pois isso causaria provavelmente um "problema em relação à neutralidade". Ou seja, em determinados espaços públicos, como um tribunal ou uma sala de aula, é necessário manter, neste sentido, uma posição "neutra". Nestes lugares, não se deve passar a impressão de que se tem predileção por alguma religião especificamente.

Contradições de uma sociedade secular

Imposto religioso: recolhido pelo Estado e repassado às IgrejasBildunterschrift: Imposto religioso: recolhido pelo Estado e repassado às IgrejasNa Alemanha, a escolha religiosa é considerada, em primeiro plano, uma opção individual e particular de cada um. As salas dos professores, onde podem ser encontrados símbolos religiosos, não são, no entanto, um espaço considerado privado.

Percebe-se aí uma contradição. A Alemanha é, por um lado, de acordo com sua Lei Fundamental, um Estado secular, religioso e neutro do ponto ideológico-filosófico, que teoricamente se posiciona em prol da separação entre Igreja e Estado. Na prática, contudo, essas duas instâncias se misturam de várias formas, ao contrário do que acontece, por exemplo, na França, onde há uma separação rigorosa dos dois setores.

Essa contradição repercute de diversas maneiras na sociedade. Na Alemanha, não há nem uma religião, nem uma Igreja estatais. Mesmo assim, o Estado coopera tanto material quanto ideologicamente com as Igrejas. Segundo Muckel, não seria, por exemplo, uma obviedade, o fato de a Constituição Federal permitir ao Estado a arrecadação de impostos para a Igreja, tampouco a regra que estabelece aulas de religião, nas escolas públicas, como disciplina regular.

Fazendo uso de recursos públicos, a Igreja engaja-se bastante no país em setores de assistência social, como jardins-de-infância, escolas e hospitais. "Não é à-toa que as Igrejas são, na Alemanha, depois do serviço público, o maior empregador", resume o especialista em Direito Canônico.

Retorno às religiões

Jornada Mundial da Juventude: encontro das massasBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Jornada Mundial da Juventude: encontro das massasÉ verdade que a Igreja vive lamentando a perda crescente de fiéis, o que provoca, em tese, uma crise eterna da instituição e uma redução dos "impostos religiosos". Em contraste peculiar a este cenário, porém, percebe-se, ao mesmo tempo, uma nova tendência de retorno da religião nas sociedades contemporâneas. Um retorno que não se restringe, de forma alguma, apenas ao cristianismo.

Em maio deste ano, 500 mil pessoas festejaram o Congresso da Igreja Luterana Alemã em Colônia. Em julho último, o Dalai Lama foi recebido em Hamburgo com tapetes vermelhos. Na ocasião, 50 mil pessoas participaram de seminários budistas na cidade. Neste contexto, não há de se esquecer também a Jornada Mundial da Juventude, uma das grandes confraternizações internacionais que aconteceram na Alemanha em 2005.

Construção de mesquita não é questão jurídica

Arquiteto Paul Boehm com maquete de mesquita a ser construída em Colônia: projeto polêmicoBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Arquiteto Paul Boehm com maquete de mesquita a ser construída em Colônia: projeto polêmicoOnde há religião, há símbolos. Todas as religiões fazem uso explícito de rituais e simbolismos. Elas vivem disso. O que faz com que a pergunta já esteja, em princípio, lançada: quantos símbolos religiosos uma sociedade secular como a alemã consegue suportar, sem abandonar seu secularismo?

Deste ponto de vista meramente jurídico, diz Muckel, não há barreiras intransponíveis que impeçam a construção de uma grande mesquita em Colônia. A discussão sobre o assunto acontece, segundo o especialista, na esfera política.

Que altura podem ter os minaretes, a cúpula pode ter quais proporções, o quão imponente pode ser a obra? Em suma: quantas mesquitas suporta uma cidade liberal como Colônia? Por que as pessoas que se opõem à sua construção se sentem tão incomodadas? Por que a construção de uma Igreja não representaria problema algum, enquanto a de uma mesquita sim? As reações são muitas, os muçulmanos se sentem discriminados e feridos no direito fundamental de praticarem sua religião.

Proibição de alguns símbolos não-cristãos

Professora da rede pública com véu muçulmano: proibição por leiBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Professora da rede pública com véu muçulmano: proibição por leiTambém em relação aos chamados "veredictos do véu" os muçulmanos se sentem tratados de forma diferenciada na Alemanha. Mesmo que, na maior parte dos estados do país, tenham sido aprovadas leis que proíbem símbolos religiosos no espaço público, estas proibições se dão de forma não igualitária.

Em Berlim, por exemplo, foram banidos das salas de aula símbolos de qualquer religião. Já em outras regiões do país, por outro lado, os símbolos cristãos e judeus continuam sendo permitidos, enquanto o véu muçulmano, signo do islã, é proibido.

Se uma professora muçulmana dá aulas com o véu na cabeça, dita o veredicto sobre o assunto, isso é visto como demonstração religiosa por um islã fundamentalista, que oprime os direitos das mulheres. Ao mesmo tempo, a atitude de cobrir a cabeça com o véu é apontada como infração à neutralidade das escolas alemãs.

Com um quipá (solidéu usado pelos judeus) cobrindo a cabeça, uma cruz dependurada no pescoço ou até mesmo com um hábito religioso católico cobrindo todo o corpo, é permitido dar aulas em quase todos os estados alemães – quando se trata de símbolos da tradição cristã-ocidental, vale, quase sempre, o argumento da legislação estadual.

O que isso significa, porém, perante a neutralidade do Estado frente a todas as religiões e concepções de mundo, uma vez que o Tribunal Constitucional Federal quer exatamente "tratar de maneira igualitária" todas as crenças?

Esta questão vai ocupar cada vez mais o centro do debate, acredita Gerd-Ulrich Kapteina, porta-voz do Tribunal Administrativo de Düsseldorf, em entrevita à Deutsche Welle. O tribunal confirmou no último 14 de agosto o recente veredicto acerca da proibição do uso do véu muçulmano por professoras nas escolas da rede pública, tendo salientado, no entanto, que uma diferenciação entre símbolos religiosos islâmicos e cristãos não é tolerável.

Ao lado de várias outras questões problemáticas, o exemplo da polêmica em torno do lenço mostra quais desafios o ressurgimento das religiões traz para a sociedade secular. A Alemanha, pelo menos até agora, ainda não encontrou as respostas ao problema.


Erning Zhu (sv)

Fonte: Deutche Welle

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A LIDERANÇA

A LIDERANÇA

Há atualmente uma necessidade de lideres eficaz nos níveis mais altos de nossas organizações. A arena de competição econômica internacional é maior foca atrás de nossa necessidade de lideres mais competentes no mundo empresarial. Podemos compara a isso com o período de guerra, quanto há a maio necessidade de lideres eficazes no militarismo e no governo, com o mundo empresarial atual. Durante a guerra, o exercito precisa de administração competente em todos os níveis hierárquicos, mas não pode funcionar sem muita liderança em quase todos os níveis. Ninguém ainda descobriu como administrar as pessoas em uma batalha.
Como no mundo empresarial, necessitamos de lideres em todos os níveis, se quisermos nos adaptar, com sucesso, as novas realidades ambientais.

LIDERANÇA E ÉTICA

Os lideres, por ocuparem posições de influencia, tem o poder de influenciar questões e decisões éticas que afetam muitas pessoas. Felizmente, temos guias e padrões éticos dados através de nossa cultura, religião e valores. Muitos desses padrões se transformam em leis para assegurar que padrões éticos sejam compridos. Entretanto, nem sempre é fácil verificar se um administrador esta agindo de forma ética.
Às vezes as leis demoram muito para fazer afeito.

LIDERANÇA VERSUS ADMINISTRAÇÃO

As pessoas muitas vezes igualam liderança e administração. Se refere a desempenho das funções da administração quando se propõe novos programas (planejamento), reestruturar as agencias (organização), tenta inspirar confiança durante o período difícil (liderança), ou mover um chefe de departamento quando as coisas dão errado(controle).
Uma explicação para essas interpretações tão ampla de liderança pode ser o fato de que às vezes usamos o termo líder quando nos referimos a administradores. Embora os dois sejam semelhantes, há algumas diferenças significativas.
Liderança se baseia na capacidade de uma pessoa influenciar outras pessoas para agir de forma a atingir metas pessoais e organizacionais. Porem, administração abrange muito mais. Apesar de a liderança fazer parte dela, incluir também o desempenho de outras funções: planejamento, organização e controle.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

NUNCA CHEGUE ATRASADO A UMA REUNIÃO

Certo Padre recebia um jantar de despedida pelos 25 anos de trabalho ininterrupto à frente de uma paróquia.
Um político da região e membro da comunidade convidado para entregar o presente e proferir um pequeno discurso se atrasou.
O sacerdote, então, decidiu iniciar a solenidade e proferir umas palavras: "A primeira impressão que tive da paróquia foi com a primeira confissão que ouvi. Pensei que o bispo tinha me enviado a um lugar terrível, pois a primeira pessoa que se confessou me disse que tinha roubado um aparelho de TV, que tinha roubado dinheiro dos seus pais, também tinha roubado a firma onde trabalhava, além de ter aventuras amorosas com a esposa do chefe. Também em outras ocasiões se dedicava ao tráfico e a venda de drogas e para concluir, confessou que tinha transmitido uma doença à própria irmã. Fiquei assustadíssimo... Mas com o passar do tempo, entretanto, fui conhecendo mais gente que em nada se parecia com aquele homem... Inclusive vivi a realidade de uma paróquia cheia de gente responsável, com valores, comprometida com sua fé e desta
maneira, tenho vivido os 25 anos mais maravilhosos do meu sacerdócio e..."

Justo nesse momento chega o político, atrasado e o Padre interrompe seu discurso e foi dada a palavra ao político para entregar o presente da comunidade, prestando a homenagem ao Padre. Pediu desculpas pelo atraso e começou o discurso dizendo: " Nunca vou esquecer o dia em que o padre chegou à nossa paróquia... Como poderia? Tive a honra de ser o primeiro a me confessar com ele... "


Moral da história: NUNCA CHEGUE ATRASADO A UMA REUNIÃO!!!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

"Flauta" de Planejamento

Era uma vez um caçador que contratou um feiticeiro para ajudá-lo conseguir alguma coisa que pudesse lhe facilitar o trabalho nas caçadas. Depois de alguns dias, o feiticeiro lhe entregou uma flauta mágica que, ao ser tocada, enfeitiçava os animais, fazendo-os dançar.
Entusiasmado com o instrumento, o caçador organizou uma caçada, convidando dois outros amigos caçadores para a África. Logo no primeiro dia de caçada, o grupo se deparou com um feroz tigre. De imediato, o caçador pôs-se a tocar a flauta e, milagrosamente, o tigre que já estava próximo de um de seus amigos, começou a dançar. Foi fuzilado a queima roupa. Horas depois, um sobressalto: a caravana foi atacada por um leopardo que saltava de uma árvore. Ao som da flauta, contudo, o animal transformou-se, ficando manso e dançou. Os caçadores não hesitaram e mataram-no com vários tiros. E foi assim, a flauta sendo tocada, animais ferozes dançando, caçadores matando.
Ao final do dia, o grupo encontrou pela frente, um leão faminto. A flauta soou, mas o leão não dançou. Ao contrário, atacou um dos amigos do caçador flautista, devorando-o. Logo depois, devorou o segundo. O tocador, desesperadamente, fazia soar as notas musicais, mas sem resultado algum. O leão não dançava. E enquanto tocava e tocava o caçador foi devorado.
Dois macacos, em cima de uma árvore próxima, a tudo assistiam. Um deles "falou" com sabedoria:

- Eu sabia que eles iam se dar mal quando encontrassem o surdinho...

Moral da Historia:

a) Não confie cegamente nos métodos que sempre deram certo.
b) Tenha sempre planos de contingência;
c) Prepare alternativas para as situações imprevistas;
d) Preveja tudo que pode dar errado e prepare-se;
e) Esteja atento às mudanças e não espere as dificuldades para agir.

E, finalmente...

"Cuidado com os leões surdos"

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Tomando Decisões

Professor João Flávio Martinez


Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com nossa vida individual; a vida da empresa, da igreja, a vida da nossa família... Enfim, a vida de nossos semelhantes.
Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer pré-concepções ou pré-convicções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas “ciências exatas” é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos, objetivamos e vivemos.
As decisões que tomamos são invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso próprio mundo individual e social. Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de ética.
A nossa palavra "ética" vem do grego eqikh, que significa um hábito, costume ou rito. Com o tempo, passou a designar qualquer conjunto de princípios ideais da conduta humana, as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros de uma sociedade.
Ética é o conjunto de valores ou padrão pelo qual uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões.

Alternativas Éticas

Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões...!) no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.
Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.

Éticas Humanísticas

As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-410 AC). Ou seja, são aquelas éticas que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.

Hedonismo
Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do grego |hdonh, "prazer". Como movimento filosófico, teve sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era "comamos e bebamos porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade. Os hedonistas mais radicais chegavam a ponto de dizer que era inútil tentar adivinhar o que dá prazer ao próximo.
Como conseqüência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.
Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a sua doutrina central permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por natureza. Freqüentemente somos motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. A ética natural do homem é o hedonismo. Instintivamente, ele toma decisões e faz escolhas tendo como princípio controlador buscar aquilo que lhe dará maior prazer e felicidade. O individualismo exacerbado e o materialismo moderno são formas atuais de hedonismo.
Muito embora o cristianismo reconheça a legitimidade da busca do prazer e da felicidade individuais, considera a ética hedonista essencialmente egoísta, pois coloca tais coisas como o princípio maior e fundamental da existência humana.

Utilitarismo
Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números.
Pessoas influenciadas pelo utilitarismo escolherão soluções simplesmente porque elas funcionam, sem indagar se são corretas ou não. Utilitaristas enfatizam o método em detrimento do conteúdo. Eles querem saber “como” e não “por quê?”.
Talvez um bom exemplo moderno seja o escândalo sexual Clinton/Lewinski. Numa sociedade bastante marcada pelo utilitarismo, como é a americana, é compreensível que as pessoas se dividam quanto a um impeachment do presidente Clinton, visto que sua administração tem produzido excelentes resultados financeiros para o país.

Existencialismo
Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard, Jaspers, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte.
Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o homossexualismo e o adultério.
O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade.


Ética Naturalística
Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.
Por incrível que possa parecer, essa ética teve defensores como Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade. Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer e Julian Huxley.
A ética naturalística tem alguns pressupostos acerca do homem e da natureza baseados na teoria da evolução: (1) a natureza e o homem são produtos da evolução; (2) a seleção natural é boa e certa. Nietzsche considerava como virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade; vícios seriam o amor, a humildade e a piedade.
Pode-se perceber a influência da ética naturalística claramente na sociedade moderna. A tendência de legitimar a eliminação dos menos aptos se observa nas tentativas de legalizar o aborto e a eutanásia em quaisquer circunstâncias. Os nazistas eliminaram doentes mentais e esterilizaram os "inaptos" biologicamente. Sade defendia a exploração dos mais fracos (mulheres, em especial). Nazistas defenderam o conceito da raça branca germânica como uma raça dominadora, justificando assim a eliminação dos judeus e de outros grupos. Ainda hoje encontramos pichações feitas por neo-nazistas nos muros de São Paulo contra negros, nordestinos e pobres. Conscientemente ou não, pessoas assim seguem a ética naturalística da sobrevivência dos mais aptos e da destruição dos mais fracos.
Os cristãos entendem que uma ética baseada na natureza jamais poderá ser legítima, visto que a natureza e o homem se encontram hoje radicalmente desvirtuados como resultado do afastamento da humanidade do seu Criador. A natureza como a temos hoje se afasta do estado original em que foi criada. Não pode servir como um sistema de valores para a conduta dos homens.

Éticas Religiosas

São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código ético e o comportamento a ser seguido.

Éticas Religiosas Não Cristãs
No mundo grego antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar que a religião grega clássica não impunha demandas e restrições ao comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam severas dietas religiosas buscando a purificação.
O conceito hindú de não matar as vacas vem de uma crença do período védico que associa as mesmas a algumas divindades do hinduísmo, especialmente Krishna. O culto a esse deus tem elementos pastoris e rurais.
O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como o processo decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe. E esse pressuposto inevitavelmente irá influenciar suas decisões e seu sistema de valores.
É muito comum na sociedade moderna o conceito de que Deus (ou deuses?) seja uma espécie de divindade benevolente que contempla com paciência e tolerância os afazeres humanos sem muita interferência, a não ser para ajudar os necessitados, especialmente seus protegidos e devotos. Essa concepção de Deus não exige mais do que simplesmente um vago código de ética, geralmente baseado no que cada um acha que é certo ou errado diante desse Deus.

A Ética Cristã

Á ética cristã é o sistema de valores morais associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica de seus preceitos.
Como as demais éticas já mencionadas acima, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus verdadeiro. São estes:
1. A existência de um único Deus verdadeiro, criador dos céus e da terra. A ética cristã parte do conceito de que o Deus que se revela nas Escrituras Sagradas é o único Deus verdadeiro e que, sendo o criador do mundo e da humanidade, deve ser reconhecido e crido como tal e a sua vontade respeitada e obedecida.
2. A humanidade está num estado decaído, diferente daquele em que foi criada. A ética cristã leva em conta, na sistematização e sintetização dos deveres morais e práticos das pessoas, que as mesmas são incapazes por si próprias de reconhecer a vontade de Deus e muito menos de obedecê-la. Isso se deve ao fato de que a humanidade vive hoje em estado de afastamento de Deus, provocado inicialmente pela desobediência do primeiro casal. A ética cristã não tem ilusões utópicas acerca da "bondade inerente" de cada pessoa ou da intuição moral positiva de cada uma para decidir por si própria o que é certo e o que é errado. Cegada pelo pecado, a humanidade caminha sem rumo moral, cada um fazendo o que bem parece aos seus olhos. As normas propostas pela ética cristã pressupõem a regeneração espiritual do homem e a assistência do Espírito Santo, para que o mesmo venha a conduzir-se eticamente diante do Criador.
3. O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores descritos acima como humanísticos ou naturalísticos. Por si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos.
4. Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem em nós. Cada pessoa traz, como criatura de Deus, resquícios dessa imagem, agora deformada pelo egoísmo e desejos de autonomia e independência de Deus. A consciência das pessoas, embora freqüentemente ignorada e suprimida, reflete por vezes lampejos dos valores divinos. Deus também se revela através das coisas criadas. O mundo que nos cerca é um testemunho vivo da divindade, poder e sabedoria de Deus, muito mais do que o resultado de milhões de anos de evolução cega. Entretanto é através de sua revelação especial nas Escrituras que Deus nos faz saber acerca de si próprio, de nós mesmos (pois é nosso Criador), do mundo que nos cerca, dos seus planos a nosso respeito e da maneira como deveríamos nos portar no mundo que criou.

Assim, muito embora a ética cristã se utilize do bom senso comum às pessoas, depende primariamente das Escrituras na elaboração dos padrões morais e espirituais que devem reger nossa conduta neste mundo. Ela considera que a Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a Deus de forma agradável e para vivermos alegres e satisfeitos no mundo presente. Mesmo não sendo uma revelação exaustiva de Deus e do reino celestial, a Escritura, entretanto, é suficiente naquilo que nos informa a esse respeito. Evidentemente não encontraremos nas Escrituras indicações diretas sobre problemas tipicamente modernos como a eutanásia, a AIDS, clonagem de seres humanos ou questões relacionadas com a bioética. Entretanto, ali encontraremos os princípios teóricos que regem diferentes áreas da vida humana. É na interação com esses princípios e com os problemas de cada geração, que a ética cristã atualiza-se e contextualiza-se, sem jamais abandonar os valores permanentes e transcendentes revelados nas Escrituras.
É precisamente por basear-se na revelação que o Criador nos deu que a ética cristã estende-se a todas as dimensões da realidade. Ela pronuncia-se sobre questões individuais, religiosas, sociais, políticas, ecológicas e econômicas. Desde que Deus exerce sua autoridade sobre todas as dimensões da existência humana, suas demandas nos alcançam onde nos acharmos – inclusive e principalmente no ambiente de trabalho, onde exercemos o mandato divino de explorarmos o mundo criado e ganharmos o nosso pão.
É nas Escrituras Sagradas, portanto, que encontramos o padrão moral revelado por Deus. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte proferido por Jesus são os exemplos mais conhecidos. Entretanto, mais do que simplesmente um livro de regras morais, as Escrituras são para os cristãos a revelação do que Deus fez para que o homem pudesse vir a conhecê-lo, amá-lo e alegremente obedecê-lo. A mensagem das Escrituras é fundamentalmente de reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo. A ética cristã fundamenta-se na obra realizada de Cristo e é uma expressão de gratidão, muito mais do que um esforço para merecer as benesses divinas.
A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais os homens poderão chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são à vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.
       
                                  
       





É um dos fundadores do CACP, graduado em história e professor de religiões.



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O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO

O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO
Pr. Fernando Fernandes

Introdução:
Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética.

Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a correção moral.

É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja, como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por toda a comunidade.

Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na conduta.

O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados.

I - Postulados éticos que influenciam a sociedade:

O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos de relativização ética, são elas:

a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas.

b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não há normas universais.

c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral.

d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se preserve o ideal comum no cumprimento do dever.

e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo ideal ninguém infringe normas.

f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais hierarquicamente ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de modo que, diante de um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma mais elevada nesta estrutura.

Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus pastores, líderes e membros.

Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o seu distorcido padrão ético personalista.

Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado.

II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus:

A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva. Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento.

Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de relacionamentos para seus membros.

A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão integrados á igreja.

Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de Deus para a s nossas vidas.

Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora de Cristo para o ser humano.

Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo, mas é também a revelação da vontade de Deus para nós.

Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano, como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser considerada pelo cristão sincero.

Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide".

Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que humanamente sejamos contrariados.

Conclusão:
Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que o ato em si.

De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados por conceitos errôneos sobre ética e moralidade.

Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso, não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade.

Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos, que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações e reações na vivência em sociedade.

A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros.

Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual.

Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3.

Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética, mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32.

"... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22)

Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã.

Amém.


Fernando Fernandes, é Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico Batista de São Paulo.
mailto:prfcf@terra.com.br

É TRAMBIQUE!...

É TRAMBIQUE!...
Pr. Walter Santos Baptista

"Acautelai-vos, que ninguém vos engane..." (Mt 24.4)

Quando ainda seminarista, conheci o falecido Rev. José Lins de Albuquerque, pastor de uma igreja batista na cidade do Moreno, em Pernambuco. Conversávamos sobre certos espertalhões que aparecem nas igrejas evangélicas com cara de piedade, olhos de santidade e lábios de mentira. O experimentado obreiro disse-me que se o sabido viesse pela manhã, ele o convidava para o almoço; se viesse à noite, para jantar depois do culto. No jantar, ele o desmascarava.

Certa ocasião, um desses enganadores foi convidado pelo Pr. Lins de Albuquerque para uma refeição. À mesa, pediu-lhe que orasse. O homem gaguejou: "Deus... Deus... Deus..."; "Deus... Deus... Deus..." Todos olharam para ele. Meio sem graça, disse o finório: "Desculpem... Não é que eu esqueci o diabo da reza!..."

CASO 1: "DIABO LOURO"

Aconteceu no fim dos anos 70. Eu era pastor da Igreja Batista da Concórdia, no Recife. Num domingo pela manhã, apresenta-se à porta do Gabinete Pastoral um homem de meia idade, forte, cabelos grisalhos, vestindo terno com gravata. Pergunta se sou o pastor e pede licença para entrar.

Sentou-se, e me disse: "O senhor não me conhece, mas eu sou o ex-Diabo Louro. Antes fui um criminoso, hoje sou salvo pelo sangue de Jesus, sou caminhoneiro e pregador da Palavra. Mostrou-me inúmeras fotos tiradas em igrejas de diversas denominações (Assembléia de Deus, igrejas batistas, Casa da Bênção, etc).

"Fizeram comigo o que eu costumava fazer com os outros antigamente: roubaram-me tudo. Cheguei ontem com uma carga para ser entregue à transportadora, mas estava fechada porque era à tarde. Resultado: não entreguei a carga, não recebi meu dinheiro, e desde ontem que não me alimento. Quero pedir ao irmão que me empreste algum dinheiro para poder almoçar e jantar hoje, e tomar o café da manhã. Entrego a carga amanhã cedo na empresa, e venho trazer o dinheiro".

Pastorzinho novo, com o coração tocado, procurei o tesoureiro, pedi-lhe algum dinheiro (como 50 reais de hoje), e passei-o para o "irmão".

Passou a semana, o domingo seguinte, e a outra semana também. No seminário, os colegas conversavam sobre esse mesmo cidadão que teria estado na Igreja Batista da Rua Imperial, na de Afogados, do Zumbi, e outras tantas. Em algumas, o pastor até fizera uma coleta durante o culto, repassando-a ao espertalhão.

Depois de dois meses, ocorreu-me um caso perfeito de dèja vu. "Num domingo pela manhã, apresenta-se à porta do Gabinete Pastoral um homem de meia idade, forte, cabelos grisalhos, vestindo terno com gravata. Pergunta se sou o pastor e pede licença para entrar".

- "O senhor é o pastor? Posso entrar? O senhor não me conhece..."
- "Conheço, sim, o senhor não é o ex-Diabo Louro? Veio trazer o dinheiro que pediu emprestado?"

Ele havia esquecido que estivera lá anteriormente. Ficou sem jeito, mas não perdeu a esportiva:

- "Não, mas trarei esta semana..."
- "Não precisa trazer mais! Não vou ficar mais rico se trouxer ou mais pobre se não trouxer... Mas não volte mais aqui, nem vá às igrejas porque os pastores se comunicam, e todos já sabem acerca do senhor"

Sem se dar por vencido, arrematou: "Pastor,o senhor não quer que eu dê um testemunho no culto?"

CASO 2: O EXECUTIVO DE MISSÕES

Esse me aconteceu em Salvador, na Igreja Batista Sião, onde sou pastor. Foi por volta de 1994 ou 95. Numa sexta-feira, à tarde, minha secretária me telefona dizendo que um missionário havia me procurado na igreja, afirmando ser irmão de alguém que fora meu colega no seminário onde fiz mestrado nos Estados Unidos. Deixara o telefone do hotel onde estava hospedado no Porto da Barra (em Salvador). Não lembrei de qualquer colega que tivesse o mesmo sobrenome desse missionário.

No dia seguinte (sábado), pela manhã, recebi um telefonema em casa: era o "missionário". Pediu-me que fosse ao seu encontro no hotel, pois necessitava falar comigo. Fui.

Em lá chegando, já me esperava no terraço de um hotel de baixa categoria. Fiquei desconfiado, mas cumprimentei-o, e nos sentamos numa das mesas para conversar.

Procurei lê-lo. Trajava uma roupa meio de malandro, portava uma agenda e tinha uma cara de esperto. Falava um inglês perfeito com sotaque que me pareceu jamaicano ou caribenho. Apresentou-se como um dos diretores de uma Missão Evangélica interdenominacional estabelecida na Guiana, cujo propósito era ajudar igrejas na região do Caribe e Norte da América do Sul. Disse-me ter vindo ao Brasil para visitar igrejas no Amazonas, Ceará, Pernambuco e havia chegado à Bahia. Minha desconfiança aumentou, porque que teriam os estados do Nordeste com a organização que se propunha a ajudar estados do Norte? Relatou-me, ainda, que sua Missão enviara cerca de 25 mil dólares para ajudar uma igreja batista dissidente de Manaus. E ele descobrira que o pastor (bem conhecido do Brasil evangélico) havia comprado um automóvel Omega, da GM, topo de linha na época.

Viera ao Ceará, passara por Pernambuco, e na viagem de ônibus do Recife a Salvador fora furtado. Levaram todos os seus documentos e mais 23 mil dólares. Minha desconfiança já estava no limite, e eu me perguntava porque alguém que carregava tanto dinheiro não viera de avião (cinqüenta minutos de viagem, apenas).

A agenda era aberta de vez em quando. No entanto, ele a colocava de tal modo que eu não podia ler o que estava escrito. Finalmente, percebi que a agenda era em português. Estranhei. Podia ter sido, porém, um presente de algum brasileiro, quem sabe. Engoli essa.

Aí veio o golpe. Disse-me que ligara para o pai, que ficara de lhe enviar dinheiro. Como não tinha qualquer documento, pedia-me que lhe dissesse o Banco, Agência e Número da minha conta para que o dinheiro fosse transferido para ela. Quando a importância chegasse, eu iria com ele ao banco, sacaríamos o dinheiro, descontaríamos as despesas, ele daria uma oferta à igreja, e levaria o restante do dinheiro. É natural que não fiz o que pedia.

Voltando à casa, liguei para um irmão da igreja, que é delegado de polícia, que se comunicou com a titular da Delegacia especializada em Turismo, a qual enviou dois agentes policiais ao hotel. O "missionário" já era procurado pela polícia.

CASO 3: O PETROLEIRO

Cerca de três ou quatro meses depois deste incidente, recebo um telefonema de um pastor de uma igreja congregacional em Juazeiro (BA). Disse-me que havia aparecido na sua igreja um moço angolano, que dizia trabalhar numa plataforma da Petrobrás, e afirmava ser noivo de uma jovem da igreja que pastoreio, a Igreja Batista Sião. O moço "petroleiro" precisava de ajuda.

Disse o pastor que ele fora roubado na viagem de Salvador a Juazeiro, mas já havia se comunicado com os colegas do escritório, que lhe enviariam dinheiro. Como não tinha documentos... E nesse ponto, repetiu-se toda a história acima.

O pastor queria confirmar se ele era de confiança, suposto noivo de uma suposta ovelha, e se podia fornecer-lhe a própria conta bancária para a remessa dos fundos.

Contei ao pastor o acontecido comigo, a coincidência do incidente e da solução proposta. A descrição do tipo físico encaixava na mesma personagem da minha história. Disse ao pastor que chamasse a polícia.

CASO 4: O "RECIFENSE"

Esse foi também em Sião. Apareceu-me no horário da Escola Bíblica um homem que disse ser do Recife. Seu sotaque era acentuadamente do Sudeste, carioca com quase 100% de certeza.

Sem dizer que sou procedente da capital pernambucana, perguntei-lhe de que igreja era membro. Respondeu que da Igreja Batista da Mangueira (existe, é verdade, o bairro da Mangueira naquela cidade, mas não igreja com esse nome). "Quem é o pastor da igreja?" "Pastor Oliveira", respondeu (o pastor da igreja que fica na Mangueira não tem esse nome). Dava para ler que era trambique.

Disse-lhe que conversaríamos depois do Culto, e pedi a um irmão muito leal ao pastor e à igreja que cuidasse dele.

Daí a sete ou oito minutos, volta o irmão. "Cadê o homem?", perguntei. "Deixei-o na Classe Gideão. Se ele se meter a besta, tem oitenta homens lá..." Enfatizou o zeloso ordenança.

Após o Culto, o "Recifense" me procurou:
- "Então, vai me ajudar com a passagem?"
- "Meu amigo", disse-lhe, "estive pensando nas suas informações, e nunca ouvi falar na igreja que você mencionou, nem no pastor"
- "E o senhor conhece Rêcífe"

(Isso já me deixou ainda mais desconfiado, pois os recifenses se referem a "o Recife, do Recife, no Recife para o Recife", e alguns capricham na pronúncia "Ricífi" (como sou recifense, não estou ofendendo nem ridicularizando as variações regionais).

- "Conheço perfeitamente, pois lá eu nasci, fui crado, estudei, casei, pastoreei e ensinei".
- "Está me chamando me mentoroso?"
- "De modo algum; estou dizendo que não conheço essa igreja e esse pastor".

Foi embora, mas teve que assistir à EBD e ao Culto.

Pois é. "Acautelai-vos que ninguém vos engane", alertou Jesus Cristo. Nada custa ser "prudentes como as serpentes", guardando a simplicidade das pombas (Mt 10.16).

[O autor apreciará receber outros relatos de casos semelhantes.
Fineza utilizar o endereço eletrônico abaixo para remetê-los]

Walter Santos Baptista, Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA
E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

A ÉTICA NA FORMAÇÃO PASTORAL

A ÉTICA NA FORMAÇÃO PASTORAL
Ariovaldo Ramos

A batalha pelo ser humano, nesta era pós cristã, dar-se-á no campo da ética. Não só porque o que está em pauta é a questão das finalidades, mas, também, porque é único campo onde as forças pró ser humano podem travá-la. A globalização já decidiu o rumo da vida humana nos campos econômicos e sociais, a sociedade já está estruturada de modo irreversível, independente das forças que assumam o poder nas nações, pois, o que está em curso é supra-nacional. Resta, portanto, o campo da ética.

Julio Santa Ana, in Tempo e Presença, n# 295 em seu artigo "Ética, cinco anos depois...",nos dá um quadro sobre a questão ética nos relacionamentos internacionais: 1- o crescimento da economia mundial e o desenvolvimento tecnológico já permitiria a diminuição da carga horária para os trabalhadores, permitindo mehor desfrute do progresso, os empresários, entretanto, optaram pela despensa de funcionários e, mais que isso, pela exclusão do mercado de toda uma massa de trabalhadores ; 2- no plano geopolítico, os Estados Unidos da América, dada sua inquestionável superioridade bélica, tornaram-se o xerife do mundo: estão em condições de intervir em qualquer conflito mundial, garantindo, assim, um clima de paz, porém, só o fazem de acordo com os seus interesses particulares; 3- a cultura que está sendo disseminada é a mass media, a cultura da classe dominante mundial - sobreviverá o movimento cultural que se adaptar, que se inserir.

Regis de Morais, in Tempo e Presença, n# 295 no escrito "Retomar a ética à luz de nosso tempo", reitera que a batalha a ser travada é ética: "a proscrita de grande parte do século XX - a ética - voltou agindo discretamente. Discreta, mas eficientemente." diz ele. Insiste que esse é o caminho da esperança: "Nenhuma hora é hora de desistir. Sempre repito que nós podemos ter tentado muitas alternativas, mas, com certeza não tentamos todas." Descreve, em relação ao Brasil, um quadro positivo, que passa pela deposição de um presidente da república, pelo fortalecimento sindical, pela indignação frente ao desmando político, pela reação frente a absurdos como as chacinas e atos estúpidos como o assassinato de Galdino: o índio patachó. Declara que essa batalha tem uma nova e decisiva frente: a questão das drogas. Por quê declara que tudo isso é questão ética? Porque ética - ethos, em grego - designa a morada do homem, não é algo pronto, porém, é a busca de construir um abrigo permanente onde o homem se realize plenamente - ambiente que faça jus ao termo humano. Esta batalha encerra a busca de soluções estruturais e de conversões pessoais.

Luiz Alberto Gómez de Souza, in Tempo e Presença, n# 295 em "O legado de Betinho: a ética na política" chama-nos a atenção para o grande soldado pela ética surgido em solo pátrio, Betinho, mostrando como a opção deste pela sociedade, num projeto suprapartidário despertou a nação para a consciência da possibilidade de construir uma sociedade iqualitária, participativa, livre, diversa e solidária a partir da adoção de uma ética que estabelece o sentido do público como a busca do bem de todos e subordina o direito de alguns aos direitos da maioria. Deixou claro que esse é um caminho longo, que tem de ser percorrido com liberdade, principalmente, em relação às amarras que impõe formas restritas de encaminhamento da coisa pública, como os partidos políticos, numa consciência de que política é um exercício de vida que se baseia na crença de que a sociedade não está presa às garras de nenhum tipo de fatalismo, o que torna possível sonhar com transformações sociais profundas.

Manfredo Araújo de Oliveira, in Tempo e Presença n# 295 no texto "Os dilemas éticos de uma economia de mercado" - afirma que "desemprego estrutural, crise ecológica e nova problemática da relação norte-sul são problemas extremamente sérios que revelam com toda a clareza, a dramaticidade dos dilemas éticos de uma economia de mercado capitalista. Se não formos capazes de entrentar esses dilemas, talvez a sobrevivência do ser humano em nosso planeta se torne impossível." Isto porque desde Hobbes, a economia de mercado passou a ser considerada um sistema neutro de produção de riqueza onde a justa distribuição desta não está em pauta. Essa lógica cruel gerou um nível de desigualdade social insuportável, fragilizou as economias emergentes, como, estarrecidos, estamos assistindo, comprometeu o ecosistema. Estamos frente a um dilema básico: "a relação entre eficiência e justiça: uma batalha ética.

Todas essas contribuições nos remetem para a necessidade da ética na formação pastoral, pois, como agente propagador e construtor do Reino de Deus, o pastor é, eminentemente, um propalador da ética, ou, talvez, devessemos dizer de éticas. O Reino de Deus se propõe a ser a casa do homem onde o humano se concretiza. José Adriano Filho, em seu texto: "Denúncia dos causadores da ruína do povo" (Tempo e Presença n# 295) chama atenção para o fato de que o movimento profético dos séculos VIII e VII A.C. caracterizou-se, marcadamente, por essa pregação ética levada a efeito por meio da denúncia que, evocando o pacto, fazia lembrar a nação que o Deus da Bíblia é o Deus dos e pró pequeninos. Além da denúncia, o pastor deve compreender que o pastorado, mais do que o cuidado pastoral da ovelha, enquanto indivíduo, tem de se caracterizar pela construção de modelos comunitários que exemplifiquem o que deve ser a casa do homem, isto é, que sejam paradigmas éticos. "Não se pode esconder uma cidade edificada sobre o monte" (mt 5.14), disse Jesus. O mesmo que, reiteradas vezes, pronunciou: "eu, porém, vos digo" numa campanha pela compreensão da ética proposta por Deus.

O pastor precisa aprender que atuação da igreja passa pela proposição de caminho que oriente o ser humano em seu devir pessoal e social. Que soberania divina, eleição, predestinação não têm nada a ver com fatalismo ou determinismo. O ser humano é co-agente da história, por isso será julgado. O homem é responsável. É preciso compreender o papel da graça comum, que torna a vida e o progresso possíveis enquanto se desenrola a história da salvação. Ainda que a perfeição não seja passível de ser alcançada, a melhoria, o aprimoramento social o é. A salvação tem de ser apreendida em seu papel social, pois salvação é sempre para e não apenas por.
A ética tem de ocupar papel preponderante na formação pastoral, além do exposto, por ser categoria teleológica, ou seja, por fazer parte do capítulo que trata das finalidades. Por quê e para o que somos. E esta é a matéria prima da teologia, esta só existe na forma que a conhecemos porque o ser humano perdeu a capacidade de responder essa questão. É claro, portanto, que o ministério pastoral é pró-ética, uma vez que não faria sentido falar de conversão se não houvesse para onde ir, ou melhor para onde voltar. É claro, também, que isso afeta o todo humano: o indivíduo, a sociedade, a política, a economia, a cidade, o campo - todos os componentes do ethos, da casa humana.

O evangelho que ora assistimos é antiético, não constrói casa alguma, na medida que promove o individualismo alienante, a irresponsabilidade social e histórica, nesse sentido atenta contra a solidariedade e, quando age socialmente, opta pelo paternalismo da assistência social que não conscientiza, não desperta companheirismo e comunidade, nem promove libertação. Não se dá conta de que há uma ação perversa de alienação em curso, cujo objetivo é fazer os pequeninos converterem-se não só aos seus opressores como aos meios de opressão; realidade, essa, muito bem retratada por Chico Buarque na letra:

"A novidade que há no brejo da cruz,
são as crianças se alimentarem de luz.
(...)
Mas há milhões desses seres que se disfarçam tão bem.
Ninguém pergunta de onde essa gente vem.
(...)
Já não se lembram que há um brejo da cruz,
que eram crianças, e que comiam luz."

Ou a ética faz parte da educação teológica ou teremos um evangelho antiético, antihistória e escravizador por individualista que será.

Ariovaldo Ramos - Teólogo e Pastor da Igreja Cristã Reformada e Missionário da SEPAL.